Carlos Vogt esteve na aula inaugural do curso de extensão para jornalistas e comunicadores e Sabine Righetti falou com pesquisadores em disciplina interna da universidade

Neste segundo semestre de 2025, a Universidade de São Paulo (USP) promove a primeira edição de dois cursos de divulgação científica. O primeiro, aberto, na forma de extensão universitária e o segundo como uma disciplina oferecida na pós-graduação. Ambos os cursos são oferecidos pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) em parceria com a Superintendência de Comunicação Social (SCS) com apoio do Instituto de Estudos Avançados (IEA).

Na aula inaugural do curso “Divulgação Científica para Comunicadores e Jornalistas”, Carlos Vogt apresentou a Espiral da Cultura Científica, gráfico que sintetiza os processos de comunicação e circulação do conhecimento científico. A espiral explica que para a ciência estar inserida na cultura, precisa passar por uma reflexão e ajuste das suas formas de linguagem. Essa intersecção entre a ciência e os modos de dizer é um dos pontos de partida da divulgação científica.

Parte da espiral proposta por Vogt explica os mudanças que ocorrem na comunicação dos cientistas com a sociedade. Na abertura da disciplina de divulgação científica para pós-graduandos, Sabine Righetti falou sobre como é possível melhorar esse processo. Após a aula, ela deu uma entrevista ao Jornal da USP em que explicou que, apesar da grande produção acadêmica do Brasil, as pesquisas ainda enfrentam dificuldades para chegar à maioria da população.

Righetti reforça a importância dessa comunicação pela responsabilidade das instituições diante do financiamento das pesquisas, que é majoritariamente público. “Outra característica é que cerca de um terço da produção científica é publicada em periódicos científicos editados no Brasil, mantidos com recursos públicos. Nós produzimos e publicamos ciência sobretudo com recursos públicos”, lembra a pesquisadora.

Objetivos  

Devolver à população parte desse financiamento na forma de informação de qualidade é parte das motivações para o lançamento dos cursos da USP. Eugênio Bucci, superintendente da SCS e um dos organizadores, destaca que as instituições de pesquisa devem prestar contas das suas atividades. “As universidades precisam estar próximas da sociedade e a excelência em comunicação sobre ciência é parte disso”, diz o professor.

Segundo Bucci, o primeiro objetivo do curso de extensão promovido pela USP é compartilhar com profissionais da comunicação o conhecimento acumulado sobre divulgação e jornalismo de ciência. Além disso, esperam que o curso seja capaz de estreitar relações entre comunicadores e a universidade, aproximando a divulgação do cotidiano dos pesquisadores.

Para a disciplina da pós-graduação, o professor diz que a expectativa é criar junto com os pesquisadores novas formulações para a divulgação científica, aumentando a expertise sobre o assunto.

Os cursos foram elaborados por uma equipe de especialistas, que conta, além de Bucci, com Clotilde Perez, diretora da ECA, Adriana Cruz e Márcia Blasques, dirigentes dos serviços de comunicação da USP, Verônica Cristo e Fernanda Rezende, assessoras de comunicação e, na disciplina, Rodrigo Calado, pró-reitor de Pós-Graduação.

Influência

“Carlos Vogt é um dos maiores nomes do Brasil quando se trata de pensar, formular o que é a comunicação de ciência hoje no Brasil”, diz Bucci. O professor conta que Vogt foi o primeiro nome que surgiu como convidado para as aulas inaugurais, pela sua influência na criação dos cursos de jornalismo e divulgação científica no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), na Unicamp.

Para Vogt, a presença do laboratório na inauguração dos cursos – representado por ele e por Righetti – é um exemplo da consolidação do Labjor como referência na área. “Sou suspeito para falar, mas é uma satisfação, um orgulho muito grande do desempenho do Labjor durante esses anos”, comenta o pesquisador.

Bucci e Vogt destacam algumas características em comum entre os cursos lançados pela USP e os já oferecidos pelo Labjor. Ambos reforçam a relevância do caráter extensionista, que agrega pessoas de diferentes áreas do conhecimento para pensarem juntas a comunicação. A outra é procurarem fornecer uma formação crítica e reflexiva sobre a prática de comunicação.

Por Mayra Trinca