Oceano ganha protagonismo nas discussões da COP no Brasil

6 de outubro de 2025

Pesquisadora do Labjor explica que papel do oceano na retenção de carbono, legislação e proteção de águas internacionais e poluição plástica devem ser temas de destaque na reunião

Com a proximidade da Conferência das Partes – COP30, o jornal ((o)) eco em parceria com a organização de mídia digital Correio Sabiá promoveram o Webinário Vozes do Mar, que reuniu pesquisadores e comunicadores em três painéis para debater conservação, comunicação e as negociações da COP. Germana Barata, pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), mediou o painel “COP30, negociações internacionais e o futuro do oceano“.

O webinário, ocorrido em 18 de setembro, é um exemplo de como o oceano tem ganhado espaço das discussões ambientais e crescido em importância como agente de enfrentamento à crise climática. Na reunião da COP deste ano, a presença de um pavilhão dedicado ao oceano aumenta ainda mais o protagonismo do tema. Isso porque, historicamente, as florestas têm concentrado as possíveis soluções. “Agora tem um esforço da comunidade científica, sociedade civil e governos de falar que não há solução se o oceano não fizer parte”, diz Barata.

Um pavilhão é uma área reservada para debates específicos. O pavilhão do oceano fica dentro da Zona Azul, que é considerada a área dos grandes debates e das tomadas de decisão de alto nível. O oceano conquistou um espaço próprio desde a COP26, em Glasgow, em 2021, mas este ano a expectativa é de que o tema ganhe ainda mais importância. “Embora seja a COP da Amazônia, a gente espera que seja também a COP da Amazônia Azul”, reforça a pesquisadora.

Soluções oceânicas

O oceano contribui para a captura de carbono da atmosfera (principal causador das mudanças climáticas) de várias formas. Os mangues, áreas normalmente menosprezadas, consideradas “insalubres” ou fétidas, têm se mostrado tão ou mais relevantes do que as florestas na retenção de carbono, segundo Barata. Além disso, representam uma barreira física para elevações do nível do mar, protegem a costa e as comunidades costeiras.

Outro serviço ambiental é a fixação de carbono em seres vivos marinhos, como algas, crustáceos, peixes e mamíferos de grande porte. O krill antártico, um crustáceo semelhante ao camarão, é um dos símbolos do carbono azul. “Quando eles estão com saúde e se reproduzindo, são toneladas de animais que servem de alimento para as baleias e o carbono fica fixo nesses animais, porque o carbono se transforma em outras moléculas que são mais saudáveis para o ambiente”, explica Barata.

Expectativas

Segundo a pesquisadora, ainda que as discussões sigam após a COP, espera-se que alguns acordos importantes sejam firmados. Um deles é o crescimento de uma economia azul, que seja voltada para o oceano como todo, desde a costa até as regiões marítimas, sempre buscando a sustentabilidade no uso do espaço.

Há também uma expectativa, especialmente pela reunião ser realizada na Amazônia, de uma maior participação de comunidades tradicionais e indígenas, que são muito representativas nesta região do Brasil. A intenção é trazer mais vozes para a negociação, além dos representantes governamentais.

Barata também diz que espera que o tema do oceano não saia mais do debate e que transite em diferentes discussões ao invés de ficar restrito apenas ao próprio pavilhão. O debate proposto pelo jornal o ((o)) eco e pelo Correio Sabiá foi pensando nessa perspectiva. Para isso, uma estratégia é reforçar a conexão entre Floresta Amazônica e oceano, como na costa do Pará e do Amapá.

Longe da costa, as águas internacionais também devem ser tema de novas propostas. Isso porque cerca de 60% do oceano está nessa região que não é coberta por nenhuma jurisdição ou legislação. O tópico entra no Tratado do Alto Mar, acordo promovido pela ONU que pretende proteger 30% da área marinha e da diversidade biológica até 2030. O documento foi aprovado pelo Senado brasileiro no dia 30 de setembro deste ano.

Outro ponto que deve ser colocado em pauta é a poluição plástica, uma das principais responsáveis pela degradação do oceano. O tema já foi tratado em discussões anteriores, mas não houve consenso e, portanto, ainda não foi firmado nenhum acordo. O Brasil é o maior produtor de plástico da América Latina, despejando 1,3 milhão de toneladas de plástico nos oceanos anualmente, segundo a organização não-governamental Oceana. Barata explica que o cenário ideal seria a interrupção total da produção, mas sabendo ser uma proposta muito desafiadora do ponto de vista econômico, que ao menos a indústria fosse responsável pelo recolhimento e destinação corretos do material.

Protagonismo brasileiro

Além de ser sede da COP, em 2027 o Brasil será sede da Conferência Mundial do Oceano da Unesco. O país tem liderado uma série de projetos e ações em prol da causa, como a aprovação de um protocolo, em abril de 2025, para o chamado Currículo Azul. O Ministério da Educação e o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação firmaram um protocolo de intenções visando à obrigatoriedade da inclusão de temas diversos sobre a cultura oceânica nos currículos escolares.

“Isso não é pouca coisa, mostra que as gerações vão crescer e vão ser educadas com uma conscientização diferenciada daquela das nossas gerações. Então, o Brasil já se destaca em relação a outros países”, explica Barata.

A pesquisadora também ressalta que o país tem se notabilizado em cultura científica, preservação e pesquisa sobre o oceano em comparação a outros países, tanto em descrição de espécies quanto no aumento da participação das comunidades tradicionais pesqueiras, marisqueiras e ribeirinhas nos projetos.

Na comunicação, ela também diz perceber, por meio do trabalho realizado pela Rede Ressoa, um crescimento na cobertura sobre o oceano em diferentes veículos. “Estamos hoje, em 2025, na metade da Década do Oceano, e eu acho que já avançamos muito na visibilidade e nas negociações. Temos uma conscientização muito melhor do que cinco anos atrás”, opina Barata.

A COP acontece entre os dias 10 e 21 de novembro, em Belém, no Pará. Barata estará presente no evento, numa parceria com o jornal ((o)) eco. Segundo a pesquisadora, a Unicamp está financiando a ida de outros pesquisadores e professores. Sabine Righetti, pesquisadora do Labjor, também irá à Conferência com a Agência Bori.

Por Mayra Trinca