Quatro grupos de pesquisa sediados na Unicamp se reuniram na última quinta (26) para compartilhar estudos em andamento
A área de pesquisa em ciência, tecnologia e sociedade (CTS) é essencialmente interdisciplinar e aparece em diferentes departamentos e institutos de pesquisa. Na última semana, quatro grupos sediados na Unicamp se reuniram no encontro “Polinizações Cruzadas” com intuito de compartilhar e trocar experiências de pesquisa nesse campo.
Participaram do encontro alunas e alunos do Labjor, que fazem parte do grupo Labirinto – Laboratório de Estudos Socioantropológicos sobre Tecnologias da Vida, coordenado pela por Daniela Manica, e do Grupo de Pesquisa Informação, Comunicação Tecnologia e Sociedade (ICTS), coordenado por Marta Kanashiro e Rafael Evangelista.
Estavam presentes também representantes do Grupo de Estudos Interdisciplinares em Ciências e Tecnologia (GEICT), vinculado ao Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências e do Laboratório de Sociologia dos Processos de Associação (LaSPA), parte do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.
O objetivo do encontro foi retomar a tradição de encontros CTS entre os grupos da Unicamp. Para Pedro Ferreira, coordenador do LaSPA, a ideia do nome vem da busca por criar variabilidade nas pesquisas a partir das trocas. Marko Monteiro, coordenador do GEICT, também reforça como esses encontros promovem novas perspectivas e conexões entre pesquisadores.
Da esquerda para a direita, Pedro Ferreira, Marko Monteiro, Maria Vitoria Pereira de Jesus e Daniela Manica na mesa de abertura. Foto de Fernanda Mariath.
Ainda que os grupos trabalhem com temas em comum, o cotidiano do trabalho em pesquisa nem sempre abre espaço para compartilhar o que tem sido feito com pessoas próximas. Por isso, momentos como esse são importantes para fortalecer os grupos e proporcionar uma via de divulgação de pesquisas recíprocas, como dito por Daniela Manica na mesa de abertura.
Pesquisas apresentadas
O encontro foi dividido em quatro mesas de apresentação: Políticas, Tecnologias, Métodos e Ciências. Ao todo, foram apresentadas dezesseis pesquisas desenvolvidas por pós-graduandas(os) dos quatro grupos. As pesquisas apresentadas partem de propostas diferentes, o que enriquece o debate e ilustra a diversidade de temas que se entrelaçam nos estudos CTS.
Os temas passaram por questões ambientais, tecnológicas e tecnocientíficas, como aumento da vigilância e dos usos de inteligências artificiais, e sociais, como metodologias de pesquisa feminista. Como dito pelo professor Jean Carlos Hochsprung Miguel, os trabalhos refletem uma era marcada pelo colapso ecológico em encontro com os avanços tecnológicos, causando uma desorganização e desestabilização do conhecimento científico que exige repensar os modos de fazer ciência na contemporaneidade.
Quanto ao uso das tecnologias, especialmente as IAs, o debate percorreu as aplicações na justiça, política e segurança pública. As pesquisas mostram como crenças em uma suposta neutralidade da tecnologia reforçam preconceitos inerentes à tecnologia. Demonstram também que depositar uma pretensa solução dos problemas no aperfeiçoamento das ferramentas esconde as falhas intrínsecas do sistema e estimula o crescimento do consumo de uma tecnologia que segue apresentando uma série de problemas.
As pesquisas passaram também por diferentes metodologias possíveis, com destaque para os trabalhos de Donna Haraway, como a antropologia multiespécie e as figurações e metáforas. Foi apresentada também a proposta da construção de podcasts como métodos de pesquisa, demonstrando como as etapas de elaboração e desenvolvimento se sobrepõem e promovem uma maior sincronia entre pesquisa e divulgação do conhecimento.
Por Mayra Trinca